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Artigo: Como indústria de eventos, a Bahia tem que ser capaz de criar ambiente seguro contra a covid-19

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Originalmente publicado no Jornal A Tarde

O cenário de quarta onda da covid-19 na Europa e a descoberta de mais uma variante, a ômicron, apontam para a urgência de a Bahia levar a sério o passaporte da vacina. O que temos, até agora, é uma postura ainda flexível das autoridades, sem firme aplicação desta medida na prática. Há pouco menos de um mês para o verão, com as fronteiras todas abertas, é absurdo que o comprovante de imunização ainda não seja uma realidade obrigatória em restaurantes, lojas e todos os demais eventos sociais.

O passaporte é uma alternativa poderosa indicada por cientistas para estimular a população a buscar pela vacina e nos livrar, de uma vez, desse cíclico abre e fecha, aperta e afrouxa desta pandemia que já dura mais do que deveria. Era esta medida que deveria estar no centro das atenções e das discussões na imprensa antes de qualquer afirmação sobre as festas de Réveillon e Carnaval.

Só pouco mais de 50% da população baiana tomou as duas doses da vacina até agora, o que significa que a outra metade segue por aí sem a proteção completa, exposta, e ainda se soma aos turistas que têm chegado livremente. A variante detectada na África revela a importância de adotar o controle da entrada e testagem de pessoas na Bahia. É necessário fazer vigilância com os turistas, seja lá de onde quer que eles venham. É preciso adotar o passaporte da vacina para as viagens em ônibus, aviões e embarcações.

O estado tem registrado aumento no número de casos ativos, com mais de 3 mil pessoas acometidas no momento, segundo dados da Sesab, no fim de novembro. Em setembro e outubro, esses casos ativos vinham se mantendo na casa de 2 mil pessoas. Portanto, não há como falar em festas de grandes dimensões quando os indicadores vêm apontando tendência de retorno ao risco. No último Carnaval, em 2020, cerca de 16,5 milhões de pessoas circularam em Salvador durante todo o período, segundo divulgou a prefeitura. Isso é mais do que a população inteira da Bahia, numa única cidade.

Não se trata de uma discussão de ser a favor ou não de eventos culturais. Trata-se, mais uma vez, de sermos a favor da vida ou da morte. Sabe-se que as festas são uma cultura de excelência da Bahia, somos uma das melhores e mais capacitadas indústrias de eventos do país, e para demonstrar esta capacidade precisamos mostrar o quanto somos capazes de tornar o cenário seguro para a ocorrência destes encontros sociais. 

Na semana passada, a diretora-assistente da Organização Mundial da Saúde (OMS) para Acesso a Medicamentos, Mariângela Simão, afirmou que vê com preocupação a discussão sobre a ocorrência do Carnaval no país.

Não queremos mais mortes e nem adoecimentos. Seria ideal contar com a influência dos grandes artistas para convocarem seus fãs para a vacinação. Os artistas têm uma força de mobilização e talvez desconheçam o quanto podem ajudar! A internet está aí com as suas múltiplas possibilidades… Por que não fazem uma enquete nas suas redes sociais para medir quantos dos seus fãs tomaram a vacina? Quantos receberam a segunda dose? E se divulgassem os calendários de vacinação de suas cidades? E se postassem informações desmentindo os mitos sobre a vacina? São sugestões de como podem contribuir.

Nas últimas semanas, um debate na classe artística entrou em uma onda que parece questionar quem pode aglomerar mais e quem pode aglomerar menos, quem é que está autorizado a aglomerar 3 mil e quem pode 30 mil, se a Fonte Nova ou o trio. Nada disso é receita para a nossa saída dessa situação.

Nesse passo, é válido lembrar que muitos empresários entenderam a relevância da colaboração para encontrarmos a saída juntos, como sociedade, e mobilizaram toda uma rede para viabilizar o transporte e armazenamento para agilizar a aplicação das doses das vacinas no SUS, esse sistema que é orgulho nacional.

Nós ainda estamos dentro da maior crise sanitária da história e, mesmo com todo o negacionismo, a busca e a confiança dos brasileiros na vacina é, sem dúvida, algo a se comemorar. Não podemos colocar tudo a perder. É preciso tirar o vírus de circulação e isso só acontecerá com os nossos corpos blindados contra ele.

Marcos Sampaio
Presidente do Conselho Estadual de Saúde da Bahia (CES-BA), órgão fiscalizador e deliberador das políticas públicas do SUS no estado